Milena e Adelardo | Euro Trip 2015
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Dois anos se passaram desde a última vez que estivemos na Europa.
Sabemos que muitas pessoas sonham durante toda sua vida em estar em lugares como os que passamos nesses dias. E é por isso que vemos a fotografia como uma janela ou até como uma tela de uma obra de arte que te permite viajar e sonhar sem sair do lugar.
A janela que desperta curiosidades e tantas sensações que nos fazem de modo inconsciente e instigante caminhar em sua direção.. até que mais perto, percebe-se que ela é uma porta. Uma porta que não tem trancas ou segredos e que te convida a entrar a explorar infinitos estímulos e possibilidades.
Daquela pequena janela do avião escorriam, uma a uma, pequenas gotas de orvalho condensadas pelas baixas temperaturas das grandes altitudes. Nuvens escuras e densas confundiam a perspectiva da velocidade e durante o percurso o tempo parava. Lá embaixo, em meio ao vasto e azul pacífico, a milhas da costa, um barquinho sozinho rasgava a imensidão azul e deixava um lindo rastro branco. Os pensamentos viajaram e um filme sobre aquele homem que o dirigia passou diante dos olhos. Tão só, tão isolado, no mar ou na nossa própria casa, quantos de nós deixamos de passar para o outro lado da porta. É preciso sonhar, é preciso perseguir sonhos, é preciso crer no impossível, é essencial crer em Deus e no homem.
Do Brasil paramos em Porto/Portugal, em apenas uma tarde nos perdemos em meio aquelas ruelas que mais parecem um labirinto. Comemos um bacalhau acompanhado por um bom vinho português. De lá partimos para Budapeste. Que cidade maravihosamente plana e projetada, pessoas lindas nas ruas! Encontramos com um jovem casal, nossos “clientes” naturais de Blumenau mas que viviam na Irlanda.. tantas histórias em poucas horas de uma tarde em meio a muitas fotos. De lá fomos à Praga. Na chegada, mesmo enganados por um taxista desonesto estávamos apaixonados pelo lugar.
Faríamos duas sessões lá e nos dias que antecederam exploramos a cidade e suas muitas possibilidades de cenário. Encontramos nosso segundo casal, os portugueses Marta e o Ricardo. Em poucos minutos ja éramos grandes amigos. No outro dia foi a vez de rever clientes/amigos antigos.. Lilian e Anisio nossos cariocas queridos! Vieram as fotos, dois nasceres do sol abençoados por Deus após dias continuos de chuva e frio.
Nós seis nos despedimos de Praga num restaurante espetacular as margens do rio Vltava, comemos polvo com uma espuma bizarra, nos apaixonamos pela comida, rimos e conversamos por horas.
Partimos novamente e o destino era a Bélgica, agora de carro. As maravilhas da paisagem eram vistas já na estrada e a perplexidade com a educação no trânsito nos deixou tristes com a realidade do nosso país. A sensação que “deveria ser assim” nos fez dirigir diferente agora. Encontramos mais pessoas, mais histórias… Debby e Claon..Para o casamento, a Debby se arrumou na casa de uma família querida, que mesmo sem entender uma palavra do que diziam pudemos sentir o amor entre eles. O casamento foi em um celeiro em Tubize, lá conhecemos o Cícero e a Bia, que dias depois embarcariam conosco numa aventura. Também conhecemos o Jeremy e a Fiorella que acabaram nos contratando para fotografar seu casamento que seria no sábado seguinte num histórico casarão em Lille e celebrado na casa de um parente em uma pequena cidade a próxima dali.
Antes de Paris, saímos de Bruxelas acompanhados pelo Cícero e sua esposa Bia, o destino eram os moinhos de vento espalhados pela Holanda. No caminho os olhos eram preenchidos por vastas e verdes planícies, o tempo estava nublado e quanto mais nos aproximávamos do nosso destino mais frio e chuva nos assustava rumo ao desconhecido. Enfim chegamos, e ai descobrimos que os moinhos são na verdade casas e que lá vivem famílias como qualquer outra. Na primeira tentativa fomos enxotados pelo rude proprietário. A chuva aumentava e não podíamos desistir (depois de 3h para chegar até lá), paramos a uns mil metros de um e foi aí que conhecemos uma família sem igual, onde o patriarca Sr. Peter Paul, espantado por ver um casal vestido de noivos na chuva, não só nos deixou entrar em seu terreno, como abriu as portas de sua casa e nos mostrou os melhores ângulos para as fotos que ele já fizera nos anos em que também foi fotógrafo. E em meio a conversas e um chazinho com bolachas para esquentar nos apaixonamos por mais uma família, ganhamos mais amigos e aprendemos mais sobre a vida.
Fomos a Paris após passar por Bruxelas, Bruges e a Cidade dos Moinhos na Holanda. Em Paris reencontramos dois dos casais da Bélgica para sessões fotográficas, caminhamos juntos mais uma vez, tendo como assunto qualquer assunto, sem amarras ou medo de revelar e ver revelado pessoas de verdade. Pessoas como nós cheias de medos, de desafios, de sonhos, de objetivos, cheias de fé.
Enfim após vinte e poucos dias voltamos à Portugal. Mas antes de sair de Paris fomos mais uma vez enganados por um taxista que sem dizer uma palavra literalmente nos assaltou, e sem perceber, nos deixou aliviados por saber que em todo lugar encontramos oportunistas.
Já em Portugal, fotografamos um querido casal mineiro que estava em lua de mel. No dia seguinte reencontramos a Marta e o Ricardo, encontramos nossos amigos Felipe e Diogo que foram pra lá filmar o casamento deles, e com eles nosso grande amigo Ricardo Neves que está morando na França. Tantos encontros e reencontros. Conhecemos mais pessoas.. a família desses queridos noivos, que também nos ensinou mais sobre a vida. Eles nos acolheram como se fossemos sua família e vivemos intensamente os dias que antecedeu o casamento.. não apenas como profissional, como de costume, mas como um convidado querido e desejado, que sentia-se assim, desejando e querendo estar ali.
Aprendemos mais, vimos mais, vivemos mais…
Todos os dias vimos ser reforçado em nós a responsabilidade de ser fotógrafo dessa gente tão especial, nos sentimos privilegiados pela confiança e pelas permissões de fazer e dizer que somos parte das suas vidas. A todo momento sentimos a presença maravilhosa da mão de Deus usando cada pequena situação para nos mostrar muitas coisas.
A todo tempo ia aumentando a esperança de que nossa fotografia realmente fosse essa janela que convida, essa porta que se abre.. em roda chorávamos comovidos pelas palavras que um dirigia ao outro, pelo modo como nos abrimos e vimos as pessoas se abrindo.
Ufa! Momentos que deixariam saudades mesmo antes de partirmos. Mas é hora de voltar, de encontrar com os altos preços pelas coisas mais simples do dia a dia, hora de deparar-se com o trânsito caótico e desorganizado, com as notícias dos hospitais que não atendem a população por falta de condições de trabalho, e séries e mais séries de notícias de assaltos à bancos por todo o país.. aqueles que roubam e riem nos jornais, querendo que paguemos mais quando tão pouco nos é oferecido. Mas em meio essa bagunça temos o nosso lar, nossos cachorros amados, temos nossa família, e nossos amigos, temos mais gente pra conhecer, mais histórias pra contar.
No fim, ao falar de nossas experiências nesses trinta dias, foram tantas coisas vividas que sem conseguir explicar resumimos apenas dizendo que nossa família aumentou. Em breve vocês conhecerão irmãos e irmãs, pais e mães, tios e tias, filhos e filhas. A família aumentou.
Essas são nossas fotos, um pouco da nossa intimidade, um pouco da nossa vida nesses trinta dias. São o que somos no dia a dia, elas são um pouco desses dias e dessas pessoas que palavras ou textos não descrevem.
São elas as janelas que nos farão ver, e que mais de perto serão portas abertas para as memórias desse tempo.
Aguardem o que vem por aí
Com carinho,
Milena e Adelardo